Em audiência pública, médicos reforçam necessidade e urgência da volta às aulas presenciais

Evento organizado pelo gabinete do deputado Homero Marchese discutiu o retorno das crianças à escola de maneira segura

As escolas são ambientes seguros e controlados e a interrupção das aulas presenciais durante mais de um ano na rede pública acarreta incontáveis prejuízos para as crianças, adolescentes e para toda a sociedade.

Essa é a principal conclusão da audiência pública “Volta às aulas de forma segura no Paraná”, promovida pela Assembleia Legislativa do Paraná nesta quinta-feira, 8, por iniciativa do deputado Homero Marchese (PROS).

Para o deputado, não há justificativa para que as escolas permaneçam fechadas. “A ciência e a observação empírica do que ocorreu em outros países mostram que a escola é um lugar protegido. Por isso, não me parece correto e justo que, enquanto as crianças ficam em casa a um grande custo educacional e psicológico, tudo mais seja aberto antes e com prioridade”, disse o deputado.

O primeiro palestrante foi o médico pediatra Rubens Cat, professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e chefe do Departamento de Pediatria do Hospital de Clínicas. Para ele, não há mais sentido em manter as escolas fechadas. “Lá no começo, quando não se conhecia sobre a doença fazia sentido. Agora, já temos literatura suficiente que mostra que a natureza poupou as crianças das formais mais graves da doença”, explica.

Para Cat, a atual situação – com as escolas particulares abertas e as públicas fechadas – mostra uma profunda injustiça com os mais pobres. “O profissional da saúde, que está na farmácia, no posto de saúde, o trabalhador do mercado não parou. A maioria desses profissionais tem os filhos na rede pública. Com quem eles estão ficando”, questiona.

O médico lembrou que as crianças não são vilãs na transmissão. “A chance de uma criança pegar o vírus dentro da escola é 100 vezes menor do que nas redondezas dela. A criança não é vilã dentro das casas, quem contamina os idosos são os adultos, muito mais do que as crianças”, disse.

ESSENCIAL
Maria Esther Graf, presidente da Associação Paranaense de Controle de Infecção Hospitalar e infectologista no HC e no Hospital do Trabalhador, tem a mesma posição. “A sociedade não pode se dar ao luxo de manter as escolas fechadas. A educação é serviço essencial. Deve ser aberto com segurança e protocolos. O risco supera e muito os eventuais benefícios”, explicou.

Segundo ela, adotadas as medidas sanitárias, de ventilação adequada e com o uso de máscaras, os professores estão mais seguros na escola do que fora dela. “As crianças pequenas têm dado show no uso de máscaras, Se a gente respeitar o distanciamento, evitar aglomerar professores na sala de professores, evitar fazer o lanche um na frente do outro, vamos ter um ambiente muito seguro na escola”, disse.

Maria Esther ainda considerou um contrassenso condicionar a volta às aulas com a vacinação. “Claro que os professores devem ter prioridade. Mas não temos como vacinar todos agora. Em muitos casos a segunda dose vai demorar muito tempo. Não dá para perder mais um ano”, disse.Ela lembrou que há uma série de pressões envolvendo sindicatos de professores, por exemplo, mas que é preciso pensar nas crianças. “Quem é o sindicato das crianças? Quem defende elas? Estamos falando de uma série de transtornos mentais nas nossas crianças. Parece que não caiu a ficha sobre isso.”

ATENDIMENTOS REPRESADOS
A questão da saúde mental das crianças foi abordada pelo médico psiquiatra Felipe Figueiredo. Para ele, crianças e adolescentes estão sofrendo com uma série de transtornos como ansiedade, depressão, entre outros, devido ao isolamento, à falta de convivência com outras crianças, falta de atividade física, entre outros fatores.
“Muitos artigos científicos têm mostrado que o impacto desse momento vai ser levado para toda a vida adulta das crianças”, diz.

Marchese lembra que a disparidade socioeconômica que aflige o Brasil tem mostrado sua face na pandemia. O médico, que atende no SUS e na clínica particular, vê realidade distintas. “No SUS temos visto uma interrupção de casos. Por quê? O grande encaminhador para o atendimento médico é a escola e o sistema de assistência social. Os dois estão paralisados. No particular eu não tenho mais vagas. Isso significa que a partir do momento que a escola abrir vamos ter um boom de atendimentos e vamos ter a real dimensão do problema.”

A audiência também contou com a participação de mães, que estão se organizando em todo o estado para cobrar a volta das aulas de maneira segura.

Michelle Campa Wendler, do Movimento Escolas Abertas Paraná, diz que as mães têm buscado se organizar, conhecer mais sobre a doença e dialogar com o poder público para que seja possível promover o retorno das aulas.
“O que temos em comum com todas as mães e todos os pais é a preocupação com nossos filhos. Queremos proteger eles. E sabemos que a escola é fundamental para isso.”

Vanessa Belei, do Movimento Mães Pela Educação, de Maringá, diz que o grupo tem buscado levar informações e conscientização sobre a questão. “Sempre buscamos levar informação e a palavra dos especialistas para lutar contra o medo e a desinformação.”

Por fim, a diretora de Planejamento e Gestão Escolar da Secretaria de Educação, Adriana Kampa, afirmou a secretaria tem trabalhado nos protocolos de segurança de volta às aulas e está organizando a rede de ensino para isso. Para ela, é possível que haja um retorno já em maio em algumas regiões do estado.

A audiência também contou com a participação do deputado estadual Soldado Fruet (PROS), das vereadoras de Curitiba Indiara Barbosa e Amália Tortato, ambas do NOVO; e do vereador Rafael Roza (PROS), de Maringá.