Projeto de vacinação em massa Serrana/SP

O município de Serrana participou do projeto de imunização em massa contra COVID-19 liderada pelo instituto Butantã. Com o chamado “projeto S”, realizado em fevereiro deste ano, foram aplicadas 54.882 doses da Coronavac produzidas em parceria com a biofarmacêutica chinesa Sinovac. Outros estudos similares foram conduzidos também no município de Botucatu, com a primeira dose da Astrazeneca, e em 13 cidades do Mato Grosso do Sul com dose única da Janssen. O projeto de imunização de Serrana teve início em fevereiro e foi encerrado em abril desse ano com uma cobertura vacinal de duas doses para 95,7% da população adulta.

Inicialmente a vacinação no município de 45.644 habitantes (estimativa 2020) foi dividida em zonas de atuação contando com uma população adulta de 28.380, ou cerca de 62,2% do total de habitantes. A exposição prévia inicial ao SARS-Cov-2 em Serrana foi em média de 25,7% e a adesão à vacina foi acima de 97% para as duas doses. De acordo com dados do estudo do Instituto Butantã houve redução de 80% no número de casos sintomáticos, 86% nas hospitalizações e 95% no número de óbitos. A vacinação foi conduzida em áreas do município de forma escalonada, iniciando na semana de 14 a 20 de fevereiro com a primeira dose e encerrando no dia 10 de abril com mais de 95% da população adulta vacinada com as duas doses.

Por enquanto não temos notícia da falta de segurança da vacina e ao que tudo indica contribuiu muito para redução das hospitalizações e mortes decorrentes do COVID-19. No entanto, diversos estudos apontam diferenças na eficácia observada da vacina. Por exemplo, através de estudo conduzido em Manaus[1] com 53.176 profissionais da saúde, 88% deles receberam pelo menos uma dose do imunizante com eficácia de 49,6% entre os sintomáticos. Outro estudo conduzido em 16 centros clínicos no Brasil[2] com 9.823 participantes encontrou eficácia de 50,7% na prevenção de casos sintomáticos leves, 83,7% para prevenção de casos moderados e graves e 100% de eficácia na prevenção de mortes. Além do Brasil a eficácia da Coronavac foi testada também no Chile[3] com mais de 70% das doses aplicadas sendo da vacina chinesa, que apresentou eficácia de 67% na redução de casos sintomáticos, 85% internações e 80% na redução dos óbitos. O surto de SARS-Cov-2 deixou e continua a deixar sequelas no Brasil e no mundo e as pessoas acompanhavam ansiosas o desenvolvimento e testagem de vacinas como nunca haviam feito antes, e dada nossa inquietação procuramos aflitos receber a vacina e descobrir sua eficácia na prevenção da COVID-19.

No ano passado o mundo observou um esforço global dos laboratórios e seus cientistas na criação de um imunizante. Inicialmente os mais otimistas acreditavam que a vacina só estaria disponível para o público na segunda metade de 2021. Desse modo, portanto, as vacinas chegaram muito antes do esperado, surpreendendo a todos, já que a vacina contra o corona vírus foi a mais rápida desenvolvida na história da humanidade (a vacina mais rápida desenvolvida até então levou quatro anos).

A elaboração e distribuição da vacina foram certamente grandes avanços que fizemos em um relativo curto período de tempo. Porém, não podemos esquecer que as vacinas ainda estão em fase de testes e vários estudos ainda estão acompanhando de perto sua eficácia na prevenção da contaminação, no desenvolvimento da forma grave da doença e óbito.

A vacina do laboratório Sinovac utiliza o vírus inativado para expor o sistema de defesa do corpo à doença sem desenvolvê-la. A ideia dessa vacina é que o vírus inativado sirva como um alerta para as defesas do organismo. Essa é uma tecnologia já tradicional que também é utilizada em vacinas para pólio e sarampo, por exemplo.

Com o início da vacinação no final de 2020 e início de 2021 muitos estudos foram elaborados para analisar a eficiência empírica das vacinas na prevenção principalmente da evolução da forma grave da doença e óbito. Assim, com o objetivo de informar e instigar a investigação fizemos também nosso levantamento dos óbitos no município de Serrana no período da vacinação, comparando com o período posterior, respeitando a janela imunológica de 14 dias após a segunda dose. Os óbitos por COVID-19 em Serrana foram comparados com municípios vizinhos que não participaram da vacinação em massa.

Procuramos comparar Serrana com municípios próximos e com tamanho populacional parecido para evitar viés de exposição ao vírus. Podemos ver que antes da finalização da aplicação da primeira dose, Serrana apresentava picos de óbitos em 28 de fevereiro e 14 de março, no entanto, com o final da aplicação da V1 na maior parte da população adulta do município, os números começaram a decrescer. É pouco provável que a vacina tenha tido algum papel na redução dos óbitos entre a aplicação da primeira e segunda dose, mas acreditamos que o curto intervalo de um mês entre a finalização da primeira e finalização da segunda dose foi crucial para a redução do número de óbitos por COVID a partir de 11 de abril. Nota-se claramente que Serrana tem queda no número de óbitos relativamente aos demais municípios até a semana de 27 de junho quando as mortes ficam próximas de zero, apresentando aumento um pouco mais expressivo na semana de 08 a 14 de agosto. Além da eficácia na prevenção ao corona vírus, os números de Serrana podem ser explicados também pela velocidade de vacinação no município, visto que o projeto de imunização foi rápido e de grande adesão pela população da cidade, permitindo imunizar os habitantes mais rápido que a circulação do vírus.

O período todo entre a V1 e final da V2 foi de aproximadamente 1 mês e 3 semanas e o total de óbitos em Serrana nesse período foi de 24 pessoas. Comparamos o período entre a V1 e V2 com período de 14 dias após finalização da V2 onde Serrana apresentou redução de 66% nos óbitos que caíram para 8, conforme gráfico abaixo.

Serrana, Pontal e Sertãozinho foram os únicos municípios a apresentar redução no número de óbitos no período analisado, sendo de -67%, -53% e -2% respectivamente. Os dados apontam que a velocidade de vacinação contribuiu para o alcance da imunidade de rebanho e o fato do município ter grande parte da sua população vacinada contribuiu para a proteção ainda que indiretamente dos não vacinados. Muito provavelmente a velocidade de aplicação das doses e a grande adesão contribuíram para um efetivo “ganho de escala” na vacinação, onde uma quantidade grande vacinados beneficia os que ainda não foram imunizados. Ainda não sabemos empiricamente por quanto tempo a imunidade da vacina se mantém, mas por enquanto parece ter contribuído bastante para redução dos óbitos em Serrana.

As análises feitas até agora foram para a população geral dos municípios e, conforme os estudos empíricos e a testagem da vacina no mundo real avançam, nota-se que estão surgindo novos casos de COVID-19 mesmo entre os vacinados. Também se verifica uma possível redução da eficácia de algumas vacinas em pacientes mais idosos e com morbidades, principalmente frente às novas variantes do novo corona vírus. Com isso em mente, buscamos na base de dados do Ministério da Saúde o número de óbitos entre vacinados por vacina para termos uma noção de desempenho.

ÓBITOS ENTRE QUEM TOMOU PELO MENOS UMA DOSE DA VACINA (ENTRE 01/01/2021 a 16/08/2021)

ÓBITOSCORONAVACASTRAZENECAPFIZERJANSSENNÃO INFORMADO*TOTAL
SERRANA10000111
CRAVINHOS610018
JARDINÓPOLIS7700014
PONTAL5200613

FONTE: Data SUS. Compilação: Equipe Deputado Homero Marchese. *Laboratório não informado.

A tabela acima resume o número de óbitos em cada município por laboratório. No período analisado, a maior parte das doses aplicadas nesses municípios foi de Coronavac e Astrazeneca, sendo Coronavac a primeira a ser aplicada e, portanto, administrada principalmente nos mais idosos. Além de a resposta imunológica reduzir com a idade, o histórico com morbidades também pode influenciar na eficácia da vacina no indivíduo, além do tamanho da população e carga viral a qual estão expostos. Por exemplo, em Serrana estima-se que em torno de 10 mil pessoas deixam o município diariamente para trabalhar na grande Ribeirão Preto, se expondo dessa forma ainda mais a infecção. Dessa forma os números acima representam dados preliminares sobre a eficácia das vacinas e devem ser interpretados com cautela, visto que mais doses da coronavac foram aplicadas nesses municípios e na população mais idosa (mais vulnerável ao vírus) podendo levar a uma conclusão errônea de baixa eficácia.

Abaixo o número de óbitos por COVID entre quem tomou as duas doses da vacina.

ÓBITOS ENTRE QUEM TOMOU AS DUAS DOSES DA VACINA (ENTRE 01/01/2021 a 16/08/2021)

ÓBITOSCORONAVACASTRAZENECAPFIZERJANSSENNÃO INFORMADO*TOTAL
SERRANA500005
CRAVINHOS400015
JARDINÓPOLIS300003
PONTAL310015

FONTE: Data SUS. Compilação: Equipe Deputado Homero Marchese. *Laboratório não informado.

É clara a redução nos óbitos entre quem tomou as duas doses da vacina, por exemplo, de seis óbitos em Serrana houve redução para duas pessoas que tomaram segunda dose, e é evidente a redução dos óbitos entre vacinados com duas doses nos demais municípios, ressaltando a importância de tomar as duas doses.

ÓBITOS 14 DIAS DEPOIS DE TER TOMADO AS DUAS DOSES DA VACINA (ENTRE 01/01/2021 a 16/08/2021)

ÓBITOSCORONAVACASTRAZENECAPFIZERJANSSENNÃO INFORMADO*TOTAL
SERRANA500005
CRAVINHOS300003
JARDINÓPOLIS200002
PONTAL310004

FONTE: Data SUS. Compilação: Equipe Deputado Homero Marchese. *Laboratório não informado.

A tabela acima mostra a redução do número de óbitos entre as pessoas que tomaram as duas doses e deram entrada no hospital somente 14 dias depois da segunda vacinação, respeitando dessa forma a janela imunológica. Cravinhos, Jardinópolis e Pontal apresentaram redução dos óbitos quando respeitado o intervalo de duas semanas. Por fim, resumo do total de óbitos entre vacinados e não vacinados.

TOTAL DE ÓBITOS ENTRE VACINADOS E NÃO VACINADOS (ENTRE 01/01/2021 a 16/08/2021)

ÓBITOSVACINADOSNÃO VACINADOSIGNORADOS*TOTAL
SERRANA1173048
CRAVINHOS873550
JARDINÓPOLIS14204478
PONTAL13264685

FONTE: Data SUS. Compilação: Equipe Deputado Homero Marchese. *Sem informação sobre vacina.

Serrana apresentou sete óbitos entre vacinados e não vacinados, porém, fazemos ressalva que muitas vezes os centros de atendimento não possuem essa informação sobre o paciente preenchendo assim o campo de vacinas como “ignorado”. É bem provável que o paciente que não apresentou informação sobre vacina não a tenha tomado, mas não podemos afirmar com certeza.

Os dados aqui apresentados foram extraídos da base de dados do Data SUS e estão disponíveis para consulta no site do ministério da Saúde. É importante ressaltar que os números entre vacinados e não vacinados podem ser ainda maiores impondo desafios na análise desses dados. Este levantamento não tem como objetivo atestar eficácia de uma ou outra vacina, mas sim informar e levantar questionamentos e discussões que podem ser úteis para a sociedade mais à frente. O estudo conduzido em Serrana foi de grande importância e traz certa dose de otimismo com relação a eficiência das vacinas no mundo real. Novamente ressaltamos que a velocidade de aplicação da vacina e a grande adesão ao imunizante foram cruciais para o sucesso do projeto.