Perspectivas econômicas para os próximos meses

Em sua última reunião, em 16 de março, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (COPOM) reajustou a taxa SELIC em 1 ponto percentual, chegando a 11,75%. A elevação reflete também as instabilidades externas devido à guerra da Ucrânia.

Com relação à atividade econômica a economia brasileira cresceu acima do esperado em 2021 mostrando forte recuperação pós-pandemia puxada, principalmente, pelo retomada do setor de serviço e indústria. Apesar da recuperação em 2021, para o ano de 2022 espera-se crescimento mais modesto e desta vez puxado pelas commodities, visto que temos um choque de oferta de produtos pela falta de insumos das indústrias e redução do poder de compra das famílias, o que pode arrefecer o crescimento pelo lado do consumo. A guerra entre Rússia e Ucrânia contribuiu para o choque de oferta de bens industriais já que a dinâmica de produção de insumos e gerenciamento de estoques se alterou, porém, estima-se que o impacto da guerra no Brasil vai se limitar bastante a variação do preço das commodities, principalmente as energéticas.

Em 2021 o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) encerrou o ano com aumento de 10,06% no acumulado em 12 meses, impactado principalmente pelos preços monitorados com destaque para a escassez hídrica no Centro-sul, falta de insumos industriais, menor produção industrial (choque de oferta) e possível deterioração fiscal das contas do governo, saindo de uma dívida líquida de 54,7% do PIB em dezembro de 2019 para 56,6% em janeiro 2022, impactando na inflação pelo lado do câmbio. Acrescenta-se ainda a retomada do setor de serviços com o relaxamento das medidas sanitárias, o que contribuiu para o reajuste de preços nesse setor.

Com relação ao câmbio, 2020 e 2021 foram marcados pelo excesso de volatilidade do preço do dólar saindo do patamar dos R$ 4,20 no início de 2020 para mais de R$ 5,00 durante o ano. A depreciação do real contribuiu para o aumento das exportações brasileiras e a entrada de dólares no país, no entanto, prejudicou bastante o poder de compra da população e a entrada de insumos importados para indústrias contribuindo ainda mais para as pressões inflacionárias. Com a retomada da taxa Selic acima dos dois dígitos a pressão cambial deve aliviar um pouco os preços para o consumidor, porém, a alta das commodities pode trazer pressões nos preços dos alimentos.

Em 2020 a taxa Selic chegou a patamares inferiores a 3% a.a, sendo utilizada como política de incentivo a uma economia refém da pandemia. No entanto, com a reabertura e a retomada dos setores mais afetados viu-se a necessidade do aumento dos juros para controlar a inflação e ancorar as expectativas para convergirem para a meta. Com o início do conflito na Ucrânia e a volta de um possível agravamento da pandemia de Covid-19 fica claro que o aperto monetário conduzido com a alta dos juros pelo banco central terá impacto mais significativo no longo prazo evitando a inflação inercial (aumento generalizado de preços sem choques externos que os provoque).

Dado o contexto macroeconômico resumido, simulamos três cenários para a economia brasileira em 2022, o primeiro sem grandes alterações no contexto interno e externo atual, o segundo com choque altista no preço das commodities e o terceiro com elevação dos juros americanos acima das expectativas. No gráfico abaixo a linha preta representa o valor realizado e a linha vermelha, verde e azul os cenários previstos.

No cenário 1 a economia segue os rumos vistos até agora com preços monitorados estáveis a 5% a.a e juros Selic a 11,75% a.a até junho deste ano, podendo sofrer novos aumentos. A retomada da indústria segue estável e a dívida líquida vai de 57% para 62% do PIB até o final de 2022. Além da indústria, o aumento dos preços das commodities pode ajudar a dar forte impulso no PIB agrícola e aumentar as receitas do governo, porém, por outro lado a alta das commodities reflete também na pressão inflacionária dos alimentos.  Neste cenário espera-se crescimento de 0,66% e dólar a R$ 4,85 no final do ano.

No cenário 2 simulamos um choque altista no preço das commodities o que puxa consideravelmente a inflação pra cima através do aumento de preço dos alimentos encerrando 2022 com IPCA acumulado de 11,9%. Por outro lado, essa escalada de preços contribui bastante para o aumento do produto agrícola no Brasil podendo o país apresentar crescimento de 1,18% em 2022. Junto com o crescimento aumenta o preço do dólar fechando 2022 em R$ 5,04.

No cenário 3, o choque veio do aumento acima do esperado dos juros americanos onde esse aperto monetário pode segurar a economia estadunidense trazendo reflexos para o Brasil que pode encerrar 2022 em recessão. Além do baixo crescimento o aumento dos juros americanos pressiona também o câmbio podendo encerrar o ano em R$ 5,07, patamar acima do esperado com a Selic vigente.

A tabela 01 abaixo resume as previsões para 2022.

TABELA 01 – PREVISÕES PARA ECONOMIA EM DEZEMBRO DE 2022

O ano de 2022 pode ser bastante turbulento devido à guerra da Ucrânia, eleições presidenciais e novas variantes do Covid-19. O relaxamento das medidas sanitárias possibilitou o retorno do setor de serviços e o restabelecimento de algumas cadeias de insumo da indústria dando novo fôlego em 2021. No entanto, o aumento da demanda por serviços e bens industriais, além da alta das commodities, pode pressionar os preços, trazendo a inflação a patamares elevados, tanto que o Banco Central interviu trazendo a taxa básica de juros novamente aos dois dígitos. Com o aumento da Selic em 2022 podendo chegar a 13% o Banco Central espera, ao longo desse ano, ancorar as expectativas dos agentes para que estes não reajustem seus preços indiscriminadamente provocando elevação da inflação inercial.

Para 2022 o crescimento previsto será mais modesto, podendo chegar até a um cenário de recessão. As restrições na oferta de insumos e a perda de poder de compra das famílias podem restringir bastante o consumo e o impulso da economia pelo lado da demanda, portanto, para este ano a salvação do PIB brasileiro pode vir da agricultura.

Os cenários aqui considerados abordaram acontecimentos que podem impactar diretamente a economia brasileira, sem levar em conta ainda o aumento da incerteza em ano eleitoral e o início de novas ondas causadas pelo vírus Covid-19.