Desde o início de julho, a discussão sobre a aplicação de uma terceira dose de vacina contra a COVID-19 tem ganhado espaço. A nível mundial, a Pfizer anunciou que já está desenvolvendo uma terceira dose do imunizante. Na América do Sul, o governo Chileno declarou estar elaborando um estudo sobre a distribuição de uma dose de reforço, após observar que a alta de casos em um cenário com cerca 61% do público-alvo vacinado com duas doses. No Brasil, o diretor-presidente da Anvisa, Antônio Barra Torres, declarou que algumas vacinas distribuídas no país terão uma terceira dose. Na última semana o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou o início de um estudo sobre a necessidade da terceira dose para a CoronaVac.
Com o objetivo contribuir para o debate público e informar a população, levantamos as informações disponíveis no DATASUS a respeito dos óbitos por faixa etária, semana epidemiológica, total de doses aplicadas por fabricante e óbitos entre quem recebeu a primeira, segunda e dose única por faixa etária e fabricante. Todos os dados foram coletados nos portais oficiais e foram tratados seguindo as seguintes premissas: 1 – apenas os óbitos com resultado positivo para SARS-CoV-2, do Banco de Dados SRAG 2021, nos testes RT-PCR foram contabilizados; 2 – eventuais erros de digitação ou preenchimento inadequado do campo “38- Laboratório Produtor Vacina COVID-19”, do Banco de Dados SRAG 2021, foram considerados como “Não Informado”; 3 – na apuração dos óbitos entre os “não vacinados” o campo “36-Recebeu vacina COVID-19?”, do Banco de Dados SRAG 2021, preenchido com “Ignorado” não foram contabilizados; 4 – a vacina Janssen, de dose única, foi contabilizada como aplicação da 1ª dose; 5 – a estimativa da população brasileira para 2021 por faixa etária foi obtida através dos portais do IBGE; 6 – a agregação por semana epidemiológica seguiu o calendário epidemiológico para 2021 divulgado pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN do governo federal; 7 – o levantamento não afere a eficácia individual das vacinas nem tem essa pretensão; 8 – os dados dos EUA foram reportados pelos Estado e, possivelmente, são superiores aos apresentados; 9 – 14 dias após a segunda dose (ou a primeira, no caso da Janssen) é a marca a partir da qual o CDC americano considera uma pessoa completamente imunizada;
De acordo o conjunto de dados da Campanha Nacional de Vacinação contra Covid-19, no Brasil, até a semana epidemiológica 28, 90.782.510 pessoas receberam a 1ª doses de vacina, e 29.258.690 receberam a 2ª dose. Desse total de 120.041.200 doses aplicadas, 47,20% foram da AstraZeneca, 38,44% da CoronaVac, 11,24% Pfizer, 3,12% da Janssen e 0,002% foram listadas como “Não Informado”. Com isso, do total da população, 42,55% receberam a 1ª dose, 13,72% a 2ª dose e ainda resta vacinar 43,73%.
Em relação ao grupo que recebeu pelo menos uma dose de vacina, a AstraZeneca foi mais distribuída entre a população de 40 e 59 anos. No grupo com idade superior aos 60 anos a CoronaVac foi mais utilizada. A distribuição da vacina da Pfizer está concentrada entre a população de 30 a 59 anos. Entretanto, entre total de 2ª doses aplicadas, a CoronaVac foi a mais utilizada e possui uma proporção de distribuição por faixa etária muito similar a aplicação da 1ª dose. Esse cenário é explicado, principalmente pela situação que o país enfrentou no início do ano, com limitação na disponibilidade de doses e pelo plano de imunização. Dessa forma, no início, a vacina da CoronaVac foi distribuída em maior quantidade para os grupos de risco, aumentando a concentração de vacinados nas faixas etárias superiores. Com a aquisição de vacinas de outros fabricantes ao longo do período, a distribuição das novas vacinas acabou impactando mais o grupo etário abaixo de 60 anos.
TABELA 1 – TOTAL DE VACINADOS NO BRASIL COM PELO MENOS UMA DOSE DE VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | JANSSEN | PFIZER | NÃO INFORMADO* | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 385.078 | 122.896 | 30.712 | 146.313 | 317 | 685.316 |
20-29 | 3.304.910 | 1.403.390 | 269.710 | 1.237.941 | 96 | 6.216.047 |
30-39 | 6.477.934 | 2.365.348 | 1.153.123 | 3.319.693 | 108 | 13.316.206 |
40-49 | 11.269.260 | 2.767.437 | 1.836.672 | 5.074.034 | 70 | 20.947.473 |
50-59 | 14.297.564 | 1.869.469 | 416.996 | 3.333.459 | 50 | 19.917.538 |
60-69 | 9.598.635 | 6.343.699 | 32.528 | 269.125 | 967 | 16.244.954 |
70-79 | 1.137.534 | 7.826.544 | 7.083 | 23.668 | 809 | 8.995.638 |
80+ | 1.844.387 | 2.604.536 | 2.397 | 7.793 | 225 | 4.459.338 |
TOTAL POR FABRICANTE | 48.315.302 | 25.303.319 | 3.749.221 | 13.412.026 | 2.642 | 90.782.510 |
Semana epidemiológica: SINANWEB – Calendário Epidemiológico 2021 (www.saude.gov.br)
Ressalvas: A vacina Jassen, de dose única, foi contabilizada como aplicação da 1ª dose
*Sem indicação do fabricante da vacina
TABELA 2 – TOTAL DE VACINADOS NO BRASIL COM SEGUNDA DOSE DE VACINA COM MAIS DE 14 DIAS DA APLICAÇÃO DA SEGUNDA DOSE (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | PFIZER | NÃO INFORMADO* | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 22.673 | 64.404 | 640 | 77 | 87.794 |
20-29 | 360.046 | 953.482 | 7.234 | 1.320.762 | |
30-39 | 541.810 | 1.379.234 | 10.791 | 1.931.835 | |
40-49 | 504.658 | 1.261.454 | 13.974 | 1.780.086 | |
50-59 | 396.529 | 1.023.271 | 19.074 | 1.438.874 | |
60-69 | 1.111.785 | 5.801.466 | 2.508 | 6.915.759 | |
70-79 | 730.170 | 7.437.893 | 530 | 8.168.593 | |
80+ | 1.536.373 | 2.439.921 | 355 | 3.976.649 | |
TOTAL POR FABRICANTE | 5.204.044 | 20.361.125 | 55.106 | 77 | 25.620.352 |
Ressalva: *Sem indicação do fabricante da vacina
Em relação ao número de óbitos entre os vacinados, a CoronaVac lidera tanto entre quem recebeu pelo menos uma dose, com 21.265 registros, quanto entre quem estava vacinado com mais de 14 dias da aplicação da segunda dose, 9.486 óbitos. A AstraZenca aparece em segundo, com 11.948 óbitos com primeira dose e 492 entres o vacinados com mais de 14 dias.
Além disso, ao analisar a proporção de óbitos dos vacinados em relação ao total de doses aplicadas da mesma vacina, é possível observar que os registro dos óbitos é pequeno e indica que a vacinação está produzindo efeitos positivos no combate à pandemia. A ordem de redução de óbitos de vacinados, por ora, no geral, é Janssen, Pfizer, AstraZeneca e CoronaVac.
Entretanto, como as vacinas da AstraZeneca e Coronavac foram utilizadas por mais tempo, é intuitivo imaginar que número de óbitos será maior na comparação com as demais. Principalmente, no caso da CoronaVac, que foi a primeira vacina distribuída e enfrentou um cenário mais desafiador.
TABELA 3 – ÓBITOS NO BRASIL ENTRE QUEM TOMOU PELO MENOS UMA DOSE DE VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | JANSSEN | PFIZER | NÃO INFORMADO* | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 4 | 8 | 6 | 18 | ||
20-29 | 50 | 17 | 11 | 21 | 99 | |
30-39 | 225 | 61 | 2 | 23 | 84 | 395 |
40-49 | 720 | 130 | 3 | 104 | 233 | 1.190 |
50-59 | 2.047 | 284 | 3 | 182 | 594 | 3.110 |
60-69 | 3.754 | 2.861 | 2 | 60 | 1.659 | 8.336 |
70-79 | 1.000 | 9.095 | 9 | 2.454 | 12.558 | |
80+ | 4.148 | 8.809 | 12 | 2.685 | 15.654 | |
TOTAL POR FABRICANTE | 11.948 | 21.265 | 10 | 401 | 7.736 | 41.360 |
Semana epidemiológica: SINANWEB – Calendário Epidemiológico 2021 (www.saude.gov.br)
Ressalvas: A vacina Jassen, de dose única, foi contabilizada como aplicação da 1ª dose
*Sem indicação do fabricante da vacina
TABELA 4 – ÓBITOS NO BRASIL APÓS 14 DIAS DA SEGUNDA DOSE DE VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | PFIZER | NÃO INFORMADO* | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | – | 5 | – | – | 5 |
20-29 | – | 7 | – | 2 | 9 |
30-39 | 2 | 17 | – | 2 | 21 |
40-49 | 8 | 47 | – | 2 | 57 |
50-59 | 10 | 98 | – | 9 | 117 |
60-69 | 27 | 794 | 1 | 73 | 895 |
70-79 | 65 | 3.608 | – | 321 | 3.994 |
80+ | 380 | 4.910 | 1 | 446 | 5.737 |
TOTAL POR FABRICANTE | 492 | 9.486 | 2 | 855 | 10.835 |
Ressalva: *Sem indicação do fabricante da vacina
TABELA 5 – PROPORÇÃO DE ÓBITOS NO BRASIL DE QUEM TOMOU PELO MENOS UMA DOSE DE VACINA EM RELAÇÃO AO TOTAL DE VACINADOS COM A MESMA VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | JANSSEN | PFIZER | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 0,001% | 0,007% | 0,000% | 0,000% | 0,003% |
20-29 | 0,002% | 0,001% | 0,000% | 0,001% | 0,002% |
30-39 | 0,003% | 0,003% | 0,000% | 0,001% | 0,003% |
40-49 | 0,006% | 0,005% | 0,000% | 0,002% | 0,006% |
50-59 | 0,014% | 0,015% | 0,001% | 0,005% | 0,016% |
60-69 | 0,039% | 0,045% | 0,006% | 0,022% | 0,051% |
70-79 | 0,088% | 0,116% | 0,000% | 0,038% | 0,140% |
80+ | 0,225% | 0,338% | 0,000% | 0,154% | 0,351% |
TOTAL POR FABRICANTE | 0,025% | 0,084% | 0,000% | 0,003% | 0,046% |
Ressalva: A vacina Jassen, de dose única, foi contabilizada como aplicação da 1ª dose
TABELA 6 – PROPORÇÃO DE ÓBITOS NO BRASIL APÓS 14 DIAS DA SEGUNDA DOSE DA VACINA EM RELAÇÃO AO TOTAL DE VACINADOS COM A MESMA VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | ASTRAZENECA | CORONAVAC | PFIZER | TOTAL POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 0,000% | 0,008% | 0,000% | 0,006% |
20-29 | 0,000% | 0,001% | 0,000% | 0,001% |
30-39 | 0,000% | 0,001% | 0,000% | 0,001% |
40-49 | 0,002% | 0,004% | 0,000% | 0,003% |
50-59 | 0,003% | 0,010% | 0,000% | 0,008% |
60-69 | 0,002% | 0,014% | 0,040% | 0,013% |
70-79 | 0,009% | 0,049% | 0,000% | 0,049% |
80+ | 0,025% | 0,201% | 0,282% | 0,144% |
PROPORÇÃO GERAL | 0,009% | 0,047% | 0,004% | 0,042% |
Ressalva: A vacina Jassen, de dose única, foi contabilizada como aplicação da 1ª dose
Com isso, de acordo com os dados do Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave do Ministério da Saúde, as vacinas diminuíram a mortalidade no Brasil e no mundo em relação aos não vacinados, na maior parte das faixas etárias de forma bastante significativa. Em comparação com países que estão bem avançados na vacinação, o Brasil teve índices de hospitalizações e óbitos de significativamente piores do que EUA e Israel, que adotaram vacinas de melhor eficácia (ressalvando-se que os números dos EUA, possivelmente, são maiores que os indicados). É provável que o alto número de casos no Brasil tenha submetido nossas vacinas a um desafio maior. Por fim, é urgente uma avaliação aprofundada sobre a aplicação de uma terceira dose de vacina, sobretudo, para os idosos e profissionais de saúde com a melhor vacina disponível.
TABELA 7 – ÓBITOS DA POPULAÇÃO NÃO VACINADA POR FAIXA ETÁRIA NO BRASIL (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | NÃO VACINADOS* | TOTAL DE ÓBITOS | % POR FAIXA ETÁRIA |
0-19 | 58.883.910 | 981 | 0,002% |
20-29 | 27.852.965 | 2.073 | 0,007% |
30-39 | 20.943.163 | 7.408 | 0,035% |
40-49 | 8.907.364 | 15.126 | 0,170% |
50-59 | 4.317.422 | 23.935 | 0,554% |
60-69 | 1.050.954 | 23.090 | 2,197% |
70-79 | 421.281 | 14.434 | 3,426% |
80+ | 158.070 | 9.307 | 5,888% |
TOTAL | 122.535.129 | 96.354 | 0,079% |
Ressalva: *202.880 óbitos aparecem com a indicação de “ignorado” em relação à vacinação e não foram computados aqui
Na comparação dos óbitos entre os vacinados após 14 duas da aplicação da segunda dose de vacina, os números do Brasil são maiores que os dos Estados Unidos e Israel. Tanto em números absolutos, quanto corrigidos pelo tamanho populacional de cada país. Entretanto, como o Brasil passou um período caótico com aceleração nos números de casos e óbitos no início do ano, as vacinas enfrentaram um cenário mais estressante e desafiador do que os outros dois países. Outro fator que chama atenção são os números elevados de Israel, mesmo com a vacinação avançada, e esboçam o motivo da Pfizer estar desenvolvendo uma terceira dose de vacina, principalmente, com o avanço da variante delta que pode explicar a subida de óbitos e hospitalizações.
TABELA 8 – COMPARAÇÃO DE ÓBITOS ENTRE VACINADOS APÓS 14 DIAS DA SEGUNDA DOSE DA VACINA (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
INDICADORES | ISRAEL | EUA | BRASIL |
Óbitos vacinados | 240 | 1.141 | 10.835 |
Hospitalizações | 1.102 | 5.601 | 28.515 |
População | 9.053.000 | 328.200.000 | 213.317.639 |
Óbitos por 1 Milhão de Habitantes | 27 | 3 | 51 |
Hospitalizações por 1 Milhão de Habitantes | 122 | 17 | 134 |
Israel: https://data.gov.il/dataset/covid-19
EUA: https://www.cdc.gov) – Dados reportados pelos Estados. Quantidade total pode ser maior
Brasil: SRAG 2021 – Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (www.saude.gov.br)
Com isso, de acordo com os dados do Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave do Ministério da Saúde, as vacinas diminuíram a mortalidade no Brasil e no mundo em relação aos não vacinados, na maior parte das faixas etárias de forma bastante significativa. Em comparação com países que estão bem avançados na vacinação, o Brasil teve índices de hospitalizações e óbitos de significativamente piores do que EUA e Israel, que adotaram vacinas de melhor eficácia (ressalvando-se que os números dos EUA, possivelmente, são maiores que os indicados). É provável que o alto número de casos no Brasil tenha submetido nossas vacinas a um desafio maior. Por fim, é urgente uma avaliação aprofundada sobre a aplicação de uma terceira dose de vacina, sobretudo, para os idosos e profissionais de saúde com a melhor vacina disponível.
TABELA 9 – TOTAL DE ÓBITOS NO BRASIL ENTRE VACINADOS E NÃO VACINADOS (ENTRE 03/01/2021 a 17/07/2021)
FAIXA ETÁRIA | NÃO VACINADOS* | UMA DOSE | DUAS DOSES + 14 DIAS |
0-19 | 981 | 18 | 5 |
20-29 | 2.073 | 99 | 9 |
30-39 | 7.408 | 395 | 21 |
40-49 | 15.126 | 1.190 | 57 |
50-59 | 23.935 | 3.110 | 117 |
60-69 | 23.090 | 8.336 | 895 |
70-79 | 14.434 | 12.558 | 3.994 |
80+ | 9.307 | 15.654 | 5.737 |
TOTAL | 96.354 | 41.360 | 10.835 |
SRAG 2021 – Banco de Dados de Síndrome Respiratória Aguda Grave (www.saude.gov.br)
Ressalva: *202.880 óbitos aparecem com a indicação de “ignorado” em relação à vacinação e não foram computados aqui